sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Estrutura que corrói e destrói

O século XX assistiu a uma multiplicação de poderes desenvolvidos pela inovação tecnológica que não teve precedentes na história, assim, uma vasta literatura discutiu a influência dos principais provedores de informação das sociedades contemporâneas - a mídia de massa. Pierre Bourdieu e Sartori são dois ícones relevantes para poder discutir esse tema. Um dos campos mais afetados devido a este 'progresso', foi, sem dúvidas, o campo das telecomunicações.
Bourdieu, teórico marxista, diz que a questão fundamental é a submissão dos meios de comunicação aos interesses de mercado e, também, o fato de se tornar o reflexo do próprio mercado competitivo que constantemente busca clientes. Para ele, a luta contra o índice de audiência é uma luta insaciável pela democracia...
Sartori concorda majoritariamente com as afirmações de Bourdieu, porém, seguiu uma linha de raciocínio a fim de justificar sua teoria antropológica contra a televisão e mostrar como a sua existência inviabiliza o homem político. Seus argumentos não estão centrados na emissão da informação, e sim, na recepção da mesma. Há um longo processo de comunicação, há uma história da escrita; cada letra do alfabeto tem uma história que começou com uma imagem, associados por fonemas, que constituem uma palavra: a comunicação acontece a partir daí, e, então, há a possibilidade de expressar coisas que não seriam possíveis apenas com uma imagem. Quem não conhece os códigos da linguagem, tem problemas com a comunicação que gira em torno da palavra e da escrita propriamente dita.
Para o autor, haveria um anacronismo - o homem passa de homo-sapiens para homo-videns: os homens constroem sua sociedade que era em torno da palavra, através da imagem, ou seja, passam a pensar apenas por imagens, a imagem passa a ter primazia sobre a palavra. O homem passa por uma alteração de apreensão das informações - quando se olha a imagem, a identificação é mais rápida e essa privação da leitura privaria o homem da capacidade reflexiva.

Há a existência também da vídeo-criança, que é educada antes pelo vídeo do que pela palavra. Isso causa dificuldades para interpretar um texto, por exemplo. Seriam crianças facilmente manipuladas...



Ele ainda afirma que os meios de comunicação, que surgiram antes da era televisiva, não haviam ainda atingido a natureza simbólica do homem. A televisão atingiu. Com a incessante necessidade de ver, o homem acaba por perder a sua capacidade cognitiva que dispensa a visão. O predomínio da visão, segundo nosso autor, é um passo atrás, deixa o homem mais próximo dos seus ancestrais, o homem retrocede do ‘inteligível’ para o ‘sensível’. Sendo assim, a televisão apaga os conceitos, a possibilidade do homem de raciocinar e produz apenas imagens... Daí, tele-visão. A imagem não necessita capacidade de abstração, ela se basta em si própria. Enquanto a palavra constitui todo um universo simbólico, a imagem não tem nenhuma função senão produzir um estímulo visual. E, para a televisão, o que é visível, acaba por ter papel principal, enquanto a narração possui apenas caráter meramente secundário.



Bourdieu apesar de concordar, enxerga um problema mais grave na relação imagem – palavra: não é que a palavra esteja ausente, como diz Sartori, mas o estrago que as palavras causam por não serem cuidadas, afinal, preocupa-se muito mais em fazer algo em busca de audiência do que com a veracidade dos fatos e da própria realidade, porém, ambos estão de acordo que a televisão requisita a imagem. Seria impossível publicar um fato em instantes, pois, para que houvesse o mínimo de legitimidade, deveria ter um espaço mínimo para reflexão e até mesmo debate. Para o autor, a informação sempre fica na superficialidade, não dá tempo para digerir e moldar uma informação decente, seria somente uma superfície sensacionalista. Quando há debate, está apenas voltado para o senso comum, apresentando soluções fáceis para questões complexas.   O autor “diz” ao jornalista: você está prestando um desserviço à sociedade, sem saber. Essa “provocação” teria incomodado jornalistas, pois, para eles, o trabalho é bem intencionado, estão apenas obedecendo à estrutura proposta.

“Com palavras comuns, não se ‘faz cair o queixo do burguês’, nem do ‘povo’. É preciso palavras extraordinárias. De fato, paradoxalmente, o mundo da imagem é dominado pelas palavras. A foto não é nada sem a legenda que diz o que é preciso ler (...). Acontece-me ter vontade de retomar cada palavra dos apresentadores que falam muitas vezes levianamente, sem ter a menor ideia da dificuldade e da gravidade do que evocam e das responsabilidades em que incorrem ao evocá-las diante de milhares de telespectadores, sem as compreender e sem compreender que não as compreendem. (...) Porque essas palavras fazem coisas, criam fantasias, medos, fobias ou, simplesmente representações falsas” (Bourdieu, op.cit., pp. 25-6).
A televisão se apresenta como única influência educativa prazerosa, porém, a televisão não tem como ser um educador total, pois ela oferece apenas noções, e, então, os aprofundamentos que são atingidos pela leitura são deixados de lado. Logo, o conhecimento televisivo, que se baseia em noções, torna-se o conhecimento que prevalece e que tem relevância, fator que cria indivíduos estúpidos, se assim podemos dizer.
Sartori diz: “O fato da informação e a educação política estarem em mãos da televisão [...] apresenta problemas sérios para a democracia. Ao invés de usufruir de uma democracia direta, o demos é dirigido por manipuladores da mídia”.
Um ambiente no qual toda a opinião é heterônoma, não é possível que uma boa política seja realizada e a televisão, que poderia ser um instrumento que poderia ter trazido novamente a democracia direta - cujas decisões e rumos da polis poderiam ser decididas e comunicadas em tempo real - tornou-se o meio pelo qual os donos do poder legitimam a sua força, e somente isso.
Tanto a preocupação de Bourdieu como a de Sartori, neste aspecto, diz respeito a uma forma de sociedade na qual poucos pensam, agem e imprimem de forma fluente e sem obstáculos na consciência de cada indivíduo.
Sartori exprime: “Não temos mais um homem que ‘reina’ graças à tecnologia inventada por ele, mas, ao contrário, temos um homem submisso à tecnologia, dominado pelas próprias máquinas. O inventor é esmagado pelos seus inventos” (Sartori, op. cit., p. 119).
O tempo dedicado aos fatos que são filmados é enorme, enquanto que os fatores de relevância pública ganham pouquíssimos segundos. O que se mostram nos noticiários são fatos de importância nula, como: catástrofes naturais, acidentes, violência, fofoca... Além, é claro, dos pseudo-eventos (termo de Bourdieu), ou seja, eventos que só ocorreram por conta da televisão, ou seja, se não houvesse uma filmadora que filmasse esses eventos, eles não teriam sido divulgados na televisão. O noticiário privilegia o ataque e cala a defesa. Afinal, segundo Sartori, o ataque está na ordem das imagens, enquanto que a defesa é apenas discurso.
Bourdieu reflete: “Os jornalistas têm ‘óculos’ especiais a partir dos quais vêem certas coisas e não outras; e vêem de certa maneira as coisas que vêem. Eles operam uma seleção e uma construção do que é selecionado. O princípio de seleção é a busca do sensacional, do espetacular. A televisão convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade, e o caráter dramático, trágico” (Idem, p. 25). “Essa espécie de jogo de espelhos refletindo-se mutuamente produz um formidável efeito de barreira, de fechamento mental” (Idem, p. 33).
Bourdieu ainda trata do furo jornalístico - necessário para o sucesso e total credibilidade do jornal: “Para ser o primeiro a ver e a fazer ver alguma coisa, está-se disposto a quase tudo, e como se copia mutuamente visando a deixar os outros para trás, a fazer antes dos outros, ou a fazer diferente dos outros, acaba-se por fazerem todos a mesma coisa, e a busca da exclusividade, que, em outros aspectos, produz a originalidade, resulta aqui na uniformização e na banalização. [...] Flaubert gostava de dizer: ‘é preciso pintar bem o medíocre’” (Idem, p. 27). Há, segundo Bourdieu, uma busca desenfreado pelo “sempre assim” e o “nunca visto” (Idem, p. 61).
Sartori concorda com Bourdieu e vê um problema extra nesta criação do mundo pela televisão: ela é descrita por pessoas cujo conhecimento acerca dos assuntos de que tratam não dá conta da complexidade daquilo que falam. Qualquer “imbecil” pode falar sobre qualquer assunto, pois a sua palavra será legitimada pela força da imagem. As verdadeiras autoridades nos assuntos em questão são caladas para que celebridades democratizem a sua estupidez.
Sartori não cai na teoria da conspiração e adverte que muitas vezes, a desinformação não é fruto da manipulação, mas sim da falta de competência jornalística. Para ele, não é o jornalista que manipula, pois ele é uma simples vítima da manipulação do jornalismo.

Manipulação se dá com dependência, demência e submissão, que por sua vez se dá pela falta de capacidade de pensar e raciocinar. O ser humano tem a ferramenta mais extraordinária e capaz do que qualquer chip ou tecnologia pode ter: o cérebro. O ideal é que soubesse utilizá-lo, e não deixar em stand-by para ser corroído até a destruição.





quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Corpo e mente unidos para a revolução

Um movimento de resistência é a manifestação de pessoas que juntas, lutam por uma causa. Essa manifestação pode ir contra certos ideais ou contra um sistema propriamente dito. Analisando esse sistema num contexto atual, o capitalismo se encaixa perfeitamente.

O capital como essencial para o funcionamento do sistema vigente, cria um contexto cada vez mais crítico e problemático. A indústria, de modo geral, cria e da apoio à uma cidade, mas é ela também que a destrói. Um homem que trabalha 12 horas por dia e ganha um mísero salário vai para sua casa satisfeito porque imagina estar cumprindo o seu papel. 

Entra então uma tese de encaixe perfeito para o imperialismo do capital em pleno século XXI, que é a hegemonia de Gramsci. Ele defende que a hegemonia consiste no exercício do poder, sem o uso da força, e que a “multidão” se submeta à esse poder inconscientemente.

Na sociedade capitalista, a burguesia detém essa liderança sobre os demais, e apresenta o sistema vigente como o melhor sistema que poderia existir, a democracia. Não  há explicações se não o sentimento de dependência destes subordinados, que não conseguem obter autonomia e acabam por suportar essa situação deplorável.

Aos que não suportam, não agüentam, e “acordam” para o real - que o capital e apenas ele é o trono do império - é que nascem os movimentos anti-hegemônicos, e, assim, um movimento de resistência ao império.


        
 Cada vez mais a multidão está mais esperta, atenta e a resistência do povo tem se ampliado. A multidão está tomando consciência do sistema capitalista, e que, sem ela, o mesmo sistema não funciona. A posse é o nome que pode ser referido ao poder da multidão e significa "o que o corpo e a mente podem fazer",ou seja, a  mão de cada um é que move a multidão e a burguesia.
        
 Um exemplo atual da multidão contra o sistema foram as greves dos bancários e do correio, que duraram quase 1 mês cada uma e que conseguiram trazer melhorias para os trabalhadores, mostrando que somente com a união da classe proletária é que a multidão conseguirá almejar o que deseja.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A essência do Império

O texto ‘Império’ de Michael Hardt e Antonio Negri abrange as concepções de valores e medidas, as quais eles retraram por meio de abordagens do biopoder e da biopolítica.

A primeira parte do texto diz: “O Império se forma nesse horizonte superficial, onde nossos corpos e mentes são embebidos. Ele é puramente positivo.”, o que mostra qual era a ideia/ o pensamento obtida/o sobre essa forma de poder, em épocas passadas.

Eram implantadas diversas medidas que regulavam os costumes, hábitos e práticas produtivas das pessoas/ “multidão”. Havia obediência perante as regras e os conceitos definidos pelas instituições disciplinares do poder.

Em seguida, o texto mostra como a sociedade/"multidão” se tornou mais democrática e a ideia de singularidade e universalidade foram distribuídas por corpos e cérebros. O poder começou a ser introduzido mediante máquinas, que são o nosso sistema de comunicação. Logo, o controle é imposto pelo trabalho, e “só quando se forma o que é comum pode ocorrer a produção, e pode a produtividade geral subir”.

O biopoder - forma de poder que interpreta e acompanha a vida social - era uma lógica fechada e quantitativa, e acabou por estender seu poder através da totalidade das relações sociais.

Já a biopolítica, exprime com o imperialismo, de forma que são criadas corporações que ocupam o lugar do imperialismo (crise da soberania), que foi transformado pela nova realidade do capitalismo. Essas corporações articularam e estruturaram territórios e populações, localizando a produção biopolítica na produção de linguagem, comunicação e do simbólico. A comunicação expressa e organiza o movimento de globalização, e, por fim, comunica e produz mercadorias, criando subjetividade.

Um exemplo concreto desta mudança, causada pela transição do Império para a nova organização do poder em vista das corporações transnacionais, é como as políticas imperialistas dos países capitalistas dominantes foram transformadas, como resultado do projeto de reforma econômica, social e hegemônica dos EUA. 

Já em sua segunda parte, o texto inicia dizendo que o Império já pressupunha a crise, pois não consegue se isentar da corrupção em sua civilização. Para Maquiavel, o Império só é possível quando a liberdade e a expressão ficam vinculadas, e é justamente nessa liberdade que surge a corrupção e a destruição. Além disso, o texto diz que a definição secreta para o Império é a de democracia, e que esta, possibilita uma única possibilidade de Império duradouro e a capacidade de gerar uma dialética de contra-poderes.

A razão da crise da civilização européia se deu pelo fato de que sua soberania moderna não conseguiu acompanhar a ascensão da democracia de masas. Tanto o surgimento das massas na cena social e política, quanto a exaustão dos modelos culturais e produtivos da modernidade, o empalidecimento dos projetos imperialistas europeus e os conflitos entre países em questões de escassez, pobreza e luta de classes contribuíram para o declínio da soberania.



A teoria da crise da Europa possibilitou mudanças nos pensamentos do homem e iniciou uma nova força vital das massas ou o desejo da multidão.

Um exemplo concreto desse declínio é a queda do socialismo na URSS. A confiança que o povo tinha pelo sistema socialista foi deixando de existir e dando lugar a um novo sistema democrático. Houve revoltas e revoluções, que mesmo tendo alguns pensamentos socialistas, emergiram no declínio, que resultou na crise da sociedade...

domingo, 30 de outubro de 2011

Nus e acorrentados

Estado de direitos iguais apenas em teoria não serve, e, na prática, é sonho.

O Estado de exceção é muito comum e marca nossa existência– sua proposta oculta, porém extremamente transparente nada mais é que restringir os direitos iguais dos indivíduos, excluindo o poder legislativo e atuando autonomamente de maneira despótica. Era para ser uma idéia temporária em situações extremas, mas, em suma, sempre está vigorando.

Uma vez que não existe lei e normas para serem cumpridas, não existem direitos, logo, toda e qualquer desumanidade cometida não tem relevância alguma, o poder judiciário é inexistente – é o clássico caso dos judeus, que foram expostos à campos de concentrações, privando-os da vida propriamente dita e de todos os direitos que lhe cabiam, restando-lhes a vida nua, que refere-se à experiência de desproteção e ao estado de ilegalidade de quem é acuado em um terreno vago, submetido a viver em estado de exceção – algo inerente ao Ocidente, desde o homo sacer condenado à banição pelo direito romano até o presídio norte-americano de Guantánamo (Cuba), passando pelos campos de concentração nazistas. Isso são penas alguns dos muitos outros exemplos.




A vida política qualificada e a vida natural, o homem como sujeito político ou como animal vivo, bíos e zoé foram progressivamente entrando numa zona de indiferenciação, na qual a vida nua foi se tornando súdita do Poder Soberano e a política foi assumindo contornos de uma biopolítica. De Aristóteles a Auschwitz, do Habeas Corpus às Declarações de Direitos.

É uma medida que não tem classificação: está nas vertentes da democracia e do absolutismo, pois não segue padrão algum, uma vez que lei alguma é seguida. As pessoas tornam-se homo sacers, membros excluídos da sociedade, quase que repugnantes. Além de excluídas dos direitos civis, suas vidas são consideradas "santas" em um sentido negativo. Ainda, podem ser mortos por qualquer um, porém não podem ser mortos em rituais religiosos.

O Estado governa com mãos de ferro, e, os nus, além de tudo, estão cobertos por correntes. Vidas nuas e acorrentadas.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Estado vira instituição

   Todos tentaram entender e explicar como o ser humano se tornou social, mas nenhum deles pensou a respeito das relações de poder dentro dessa sociedade. Michel Foucault foi pioneiro à refletir sob esse aspecto, e em uma de suas frases ele exprime todo o seu pensamento e estudos: "O poder não é uma autoridade exercida sobre questões de direito, mas acima de tudo um poder imanente na sociedade, que se reflete na produção de normas e valores."   
    Para ele, de ínicio há o soberano: o único a exercer o poder e seu dever era punir de forma violenta aqueles que não seguissem as leis impostas, assim garantindo o cumprimento das leis e evitando novos descontentamentos da sociedade. Portanto, era o soberano que dominava e assegurava a vida das pessoas, mas com o tempo, ele percebeu que não era esse o meio mais eficaz de controlar seus súditos e criou o poder disciplinar - poder em que o povo teria sua conduta massificada, seria disciplinado, criando assim instituições (escolas) para disciplinar o povo. Essa forma de governo foi de extrema eficácia, uma vez que a população foi se rendendo ao governo de forma tão sutil que foi imperceptível. 


O biopoder (vem do saber) também é instalado, uma vez que a vida do ser humano é levada em conta e ele faz parte da produção econômica e evolutiva do Estado, então a maior riqueza que o Estado passa a possuir é o seu próprio povo. As repercussões do biopoder acabam por manipular as pessoas de acordo com seus desejos e acaba por alienar e oprimir o povo, voltando para o poder disciplinar: controle por meio da disciplina do indivíduo. O biopoder teve uma peculiaridade que o fez vigorar: todos consentiram a favor, já que tudo precisa da aprovação do povo, e o poder disciplinar não, uma vez que era controle e punição respectivamente.
    Apesar de ser mais democrático, o biopoder está contido no poder disciplinar, afinal, o Estado possibilita melhores condições de vida ao homem para que ele trabalhe e gere riquezas. Tendo suas necessidades atendidas, ele não se revoltará e aceitará essa manipulação. O povo criou a padronização para que toda essa forma de governo obtivesse êxito. Isso caracteriza o bem comum, de acordo com Foucault: quando todos obedecem e não contestam as leis impostas.
    Para Foucault, a sociedade disciplinar só acontece se houver o poder disciplinar e, para que este poder seja mantido, é preciso que não só o Estado, mas também todos os vínculos sociais de um indivíduo, como a Igreja e a Família, participem dessa formação. Para que o poder disciplinar seja exercido, é preciso que haja uma determinação de tempo e lugar, que se tenha conhecimento, e que principalmente, o indivíduo se encontre vigiado. Atualmente, as formas de poder são muito abrangentes, porém a partir do momento em que certo indivíduo se vê vigiado, ele passa a mudar seu comportamento, atendendo às exigências e não mais se comportando de forma subversiva.
    Atualmente, vivenciamos diferentes formas de poder que se afastam do Estado,graças ao processo de globalização, que acabou por misturar várias culturas, criando uma espécie de cultura de massa mundial.Com a implantação desse poder, que tem como base conhecimento de todos os meios componentes do desenvolvimento da sociedade, estão algumas questões políticas,éticas e principalmente econômicas.Com o desenvolvimento econômico superando o demográfico, as pessoas passam a pensar mais na qualidade de suas vidas. Essa consciência também foi importante para consolidar o capitalismo. Essas mudanças modificam o poder, dando a ele a responsabilidade pela manutenção da vida.
    Segundo Foucault todas as teorias são provisórias, o poder não fugiu a regra. Dentre tantos filósofos que formaram suas teorias em volta do poder, vivenciamos a cada dia uma forma diferenciada. Várias formas de poder (mesmo que indiretamente) acabam por governar juntas. O Estado atrela-se às instituições financeiras, que por sua vez são as que dominam o mercado, e viva o capitalismo!(?) Sim, estas instituições mesmo sem meios de repressão exercem uma forma de poder sobre a população; elas praticam o poder, já que o poder não pode ser caracterizado como objeto e sim como relação. Como? Controlam o mercado, controlam as ações, controlam o preço do que comemos e vestimos, e ainda, têm "ínfima" participação nas decisões do Estado. E assim o Estado passa a ser apenas mais uma instituição, mesmo que não se intitule como tal.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O fim do homem pelo homem

    Coube a Karl Marx, o fundador da mais completa concepção de Socialismo existente até os dias de hoje, desenvolver uma surpreendente análise e proposta de transformação social. Além de orientar o Movimento Operário nas lutas concretas do cotidiano, a obra do autor conclui que a verdadeira expressão de uma sociedade socialista só ocorreria com a extinção do Capitalismo. Desenvolvendo uma concepção de História, Marx demonstrou que as sociedades humanas baseavam-se na exploração do homem pelo homem. Esta é a base da desigualdade social que o Socialismo deveria se opor. 
Nesta foto, Karl Marx (1818-1883)
    Em todas as formas de organização sociais a exploração do homem pelo homem está fundada num determinado nível de desenvolvimento dos meios materiais de reprodução da vida humana em sociedade, as forças produtivas. Em cada momento da História as forças produtivas são desenvolvidas por uma organização social baseada num tipo específico de propriedade privada. Marx chamou esta situação de relações sociais de produção. 

    Uma sociedade humana "vive" suas relações sociais de produção até o ponto em que novas forças produtivas não mais podem ser introduzidas. Esta situação caracteriza uma crise estrutural (que coloca em choque as forças produtivas com as relações sociais de produção estabelecidas) que desemboca numa nova forma de organização social, um novo modo de produção. Assim, o Capitalismo é o resultado da crise do Feudalismo e o Socialismo seria produto da crise do Capitalismo. Da mesma forma, a burguesia foi o agente da transição do Feudalismo para o Capitalismo e a Classe Operária deveria ser o agente da transformação do Capitalismo em Socialismo. Esta é a luta de classes, que levaria ao fim da exploração do homem pelo homem.

    O fim dessa exploração do homem pelo homem levaria ao socialismo. Em sua obra Marx alega que a religião é ligada a exploração,pois vê que as concepções religiosas alienam os homens, sendo assim eles perdem a responsabilidade por seus próprios atos.
Um outro tipo de alienação também é dito em sua obra,a alienação do trabalho. O proletariado produz para o seu patrão de uma maneira tão desenfreada,que perde o controle da situação,passando a não saber o que está fazendo. Quando esse sujeito da valor ao que produziu não estará mais alienado.
    Em “O Capital”,a sua obra mais importante,ele explica sobre a Mais Valia, conceito que demonstra a total exploração do homem pelo homem. Ela é a lei fundamental do sistema capitalista;o valor “extra” da mercadoria. Um exemplo é um operário que trabalha 8 horas diárias,porém o seu serviço é feito em 2 horas,essa diferença de 6 horas é a mais valia,é o que o patrão lucrou em cima do seu operário.
    Essa concepção de capitalismo para Marx é absurda pois o operário produz mais para o patrão do que para a sua própria vida. Marx julga que quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita do socialismo. Ele previa que a única maneira do homem se livrar dessa alienação(que hoje é encontrada não somente no trabalho,mas sim na industria cultural,tornando os homens alienados 24 horas por dia quando vêem seu tempo de lazer somente na TV,Rádio,Cinema e perdem tempo de reflexão) é abolir o capitalismo,ou então quando não houver mais consumidores suficentes e por fim quando todos os homens,sejam eles burgueses ou proletariados refletirem sobre a exploração que é feita no capitalismo,que hoje é disfarçada nos fatos alegres da nossa mídia.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Até aonde somos livres?

      Jean-Jacques Rousseau foi um dos mais considerados pensadores europeus no século XVIII. Sua obra inspirou reformas políticas e educacionais, e acabou por ser o filósofo iluminista precursor do romantismo. Ele adota o pensamento de que a sociedade havia pervertido o homem natural, o "selvagem nobre" que havia vivido harmoniosamente com a natureza, livre de egoísmo, cobiça, possessividade e ciúme. Como base desse pensamento, ele afirma que os homens viviam isolados uns dos outros e não estavam subordinados à ninguém; eles evitavam uns aos outros como fazem os animais selvagens. 
     Rousseau busca meios de minimizar as injustiças que resultam da desigualdade social. Ele recomendou três caminhos: primeiro, igualdade de direitos e deveres políticos, ou o respeito por uma "vontade geral" de acordo com o qual a vontade particular dos ricos não desrespeita a liberdade ou a vida de ninguém; segundo, educação pública para todas as crianças baseada na devoção pela pátria e em austeridade moral de acordo com o modelo da antiga Esparta; terceiro, um sistema econômico e financeiro combinando os recursos da propriedade pública com taxas sobre as heranças e o fausto. Estão também no pensamento de Rousseau a valorização dos sentimentos em detrimento da razão intelectual, e da natureza mais autêntica do homem, em contraposição ao artificialismo da vida civilizada.
Em sua obra fala sobre a servidão voluntária. "O homem nasce livre,mas por toda parte encontra-se aprisionado". Rousseu questiona porque as pessoas se vendem,seja para ser escravo ou súditos do rei. Eles dirão que é pela tranquilidade civil que o soberano oferece. Mas que tranquilidade é essa que leva os súditos à miséria? Ele julga que escravidão e direito são palavras contraditórias. A única maneira de fazer os homens pararem com essa servidão solidária é a educação, somente com ela é que os homens percebem o quão o soberano usa deles para o próprio bem; afirmar que o homem se dá gratuitamente é uma afirmação absurda, justamente por essa falta de informação, já que aquele que o pratica não esta no seu completo domínio do seus sentidos.
     Diferentemente de Rousseau que acredita que a propriedade é a causa de todos os males, Hobbes e Locke não dão tanta importância para a liberdade. Para Hobbes, a liberdade é a causa da guerra de todos contra todos, sendo vista também como um terror para a preservação da vida. Para Locke, a liberdade está sempre em segundo plano; o importante para esses dois autores são a propriedade privada, ou seja, os bens que uma pessoa possui ao longo de sua vida. Enquanto para Honbbes, o direito natural de um homem é o direito à vida, para Locke, o direito natural é sempre a propriedade privada. Locke acredita que a liberdade se torna restrita pela falta de dinheiro, pois "O trabalho transforma a terra em liberdade".
     Temos como exemplo de servidão voluntária o que aconteceu no Egito de Mubarak, onde oficiais graduados das forças armadas ocupavam cargos de direção, muito bem remunerados, nas principais empresas do país, privadas ou públicas. Algo não muito diferente também aconteceu no Brasil durante o regime militar, onde todos os aparelhos de comunicação eram restritamente regulados pelos militares com objetivo de intervir na comunicação do povo brasileiro para garantir o bem econômico capitalista.
     Outro exemplo de servidão voluntária, desta vez de um modo um pouco diferente do outro exemplo citado, é o que acontece no Oriente Médio, onde o povo não sabe que está sendo explorado e consumido. As classes que governam e dirigem o país, nunca mostram suas caras. Deixam isso, para seus aliados no mundo político. Elas são anônimas, como a sociedade por ações. E o jogo que exercem é atraente como um anúncio publicitário. Por isso o povo vive tranquilo e feliz, na podridão e na miséria.
     Sendo assim o que seria a liberdade nos dias atuais? Séculos a frente da teoria dos pensadores citados, é mais fácil acreditarmos que Hobbes e Locke estavam certos. Hoje o mundo globalizado clama por propriedades, e a liberdade, tão adorada, fica apenas no papel. Os casos de servidão voluntária vivenciados no Oriente Médio podem ser os mais visíveis, mas não são os únicos existentes. Porém é difícil comentar algo sem que o preconceito seja conectado. Por isso tente não levar para este lado, respeitamos todas as religiões, mas queremos apenas citar algo visível e vivenciado debaixo dos nossos narizes, algo que nos perturba. Questionamos-nos sobre como tantos pastores nessas igrejas neopetencostais conseguem atrair tantas pessoas, e fazerem deles pagantes “exemplares” do tal “dízimo”. A única explicação: a fé dos fiéis. Logo, algo que está fora do nosso alcance, mas não impede nossa reflexão.