segunda-feira, 23 de maio de 2011

Até aonde somos livres?

      Jean-Jacques Rousseau foi um dos mais considerados pensadores europeus no século XVIII. Sua obra inspirou reformas políticas e educacionais, e acabou por ser o filósofo iluminista precursor do romantismo. Ele adota o pensamento de que a sociedade havia pervertido o homem natural, o "selvagem nobre" que havia vivido harmoniosamente com a natureza, livre de egoísmo, cobiça, possessividade e ciúme. Como base desse pensamento, ele afirma que os homens viviam isolados uns dos outros e não estavam subordinados à ninguém; eles evitavam uns aos outros como fazem os animais selvagens. 
     Rousseau busca meios de minimizar as injustiças que resultam da desigualdade social. Ele recomendou três caminhos: primeiro, igualdade de direitos e deveres políticos, ou o respeito por uma "vontade geral" de acordo com o qual a vontade particular dos ricos não desrespeita a liberdade ou a vida de ninguém; segundo, educação pública para todas as crianças baseada na devoção pela pátria e em austeridade moral de acordo com o modelo da antiga Esparta; terceiro, um sistema econômico e financeiro combinando os recursos da propriedade pública com taxas sobre as heranças e o fausto. Estão também no pensamento de Rousseau a valorização dos sentimentos em detrimento da razão intelectual, e da natureza mais autêntica do homem, em contraposição ao artificialismo da vida civilizada.
Em sua obra fala sobre a servidão voluntária. "O homem nasce livre,mas por toda parte encontra-se aprisionado". Rousseu questiona porque as pessoas se vendem,seja para ser escravo ou súditos do rei. Eles dirão que é pela tranquilidade civil que o soberano oferece. Mas que tranquilidade é essa que leva os súditos à miséria? Ele julga que escravidão e direito são palavras contraditórias. A única maneira de fazer os homens pararem com essa servidão solidária é a educação, somente com ela é que os homens percebem o quão o soberano usa deles para o próprio bem; afirmar que o homem se dá gratuitamente é uma afirmação absurda, justamente por essa falta de informação, já que aquele que o pratica não esta no seu completo domínio do seus sentidos.
     Diferentemente de Rousseau que acredita que a propriedade é a causa de todos os males, Hobbes e Locke não dão tanta importância para a liberdade. Para Hobbes, a liberdade é a causa da guerra de todos contra todos, sendo vista também como um terror para a preservação da vida. Para Locke, a liberdade está sempre em segundo plano; o importante para esses dois autores são a propriedade privada, ou seja, os bens que uma pessoa possui ao longo de sua vida. Enquanto para Honbbes, o direito natural de um homem é o direito à vida, para Locke, o direito natural é sempre a propriedade privada. Locke acredita que a liberdade se torna restrita pela falta de dinheiro, pois "O trabalho transforma a terra em liberdade".
     Temos como exemplo de servidão voluntária o que aconteceu no Egito de Mubarak, onde oficiais graduados das forças armadas ocupavam cargos de direção, muito bem remunerados, nas principais empresas do país, privadas ou públicas. Algo não muito diferente também aconteceu no Brasil durante o regime militar, onde todos os aparelhos de comunicação eram restritamente regulados pelos militares com objetivo de intervir na comunicação do povo brasileiro para garantir o bem econômico capitalista.
     Outro exemplo de servidão voluntária, desta vez de um modo um pouco diferente do outro exemplo citado, é o que acontece no Oriente Médio, onde o povo não sabe que está sendo explorado e consumido. As classes que governam e dirigem o país, nunca mostram suas caras. Deixam isso, para seus aliados no mundo político. Elas são anônimas, como a sociedade por ações. E o jogo que exercem é atraente como um anúncio publicitário. Por isso o povo vive tranquilo e feliz, na podridão e na miséria.
     Sendo assim o que seria a liberdade nos dias atuais? Séculos a frente da teoria dos pensadores citados, é mais fácil acreditarmos que Hobbes e Locke estavam certos. Hoje o mundo globalizado clama por propriedades, e a liberdade, tão adorada, fica apenas no papel. Os casos de servidão voluntária vivenciados no Oriente Médio podem ser os mais visíveis, mas não são os únicos existentes. Porém é difícil comentar algo sem que o preconceito seja conectado. Por isso tente não levar para este lado, respeitamos todas as religiões, mas queremos apenas citar algo visível e vivenciado debaixo dos nossos narizes, algo que nos perturba. Questionamos-nos sobre como tantos pastores nessas igrejas neopetencostais conseguem atrair tantas pessoas, e fazerem deles pagantes “exemplares” do tal “dízimo”. A única explicação: a fé dos fiéis. Logo, algo que está fora do nosso alcance, mas não impede nossa reflexão.